Sunday, December 18, 2005

Outono

É Outono em mim
Longe vão os tempos
Em que o Sol de Verão queimava as minhas entranhas
Em que o frio do Inverno fazia tremer o meu sangue
Agora só resta o Outono
O Outono é a não-estação
Não tem nada de seu
Rouba ao anterior os resquícios do seu calor
E timidamente introduz o frio que depois lhe segue
É assim que me sinto
Como se nada de meu tivesse para mostrar
Sinto falta do calor das minhas palavras
Que queimavam tudo à minha volta
Sinto falta da dureza do meu coração
Congelado pelo frio das sensações
Agora só me resta o Outono
As folhas caem dentro de mim
Já não queimo
Já não tremo
Não tenho nada de meu

Thursday, July 21, 2005

O dia seguinte

Caí.
Não doeu.
Feitas as contas saí a ganhar.
Já estou pronto para nova caminhada.

Tuesday, July 19, 2005

Queda

E de repente ele caiu.
Não sabe ainda se de muito alto porque ainda não sentiu o chão debaixo dele.
À medida que vai caindo vai olhando para cima para perceber o que o faz cair.
Não sabe.
Não interessa.
Ele devia saber que quem tem medo de alturas não se põe a escalar montanhas.
Nem as inventa só para depois as poder escalar.
Ele já sabia que mais tarde ou mais cedo isto iria acontecer.
Quando subimos muito torna-se mais fácil vir parar ao chão.
Talvez a certeza deste destino faça com que ele olhe com mais calma a queda que se aproxima. Mas ele já nem olha para aí.
A segurança invade-o, mesmo tacteando à sua volta sem encontrar algo a que se agarrar.
Ele sabe que não há nada para além do chão e que depois de cair, levantar-se costuma ser um bom remédio.
Na sua face não se nota a tristeza que ainda o vai consumindo, a pouco e pouco é certo.
A sua face é o espelho de alguém que já percorreu este caminho e que sabe exactamente para onde ir.
Por mais dor que sinta no impacto, por mais escura que seja a estrada diante dele, ele sabe sempre qual a direcção a seguir.
E é por isso que ele não desespera.
Para já, apenas espera.
Espera a queda.
Para depois poder caminhar de novo.

Wednesday, July 13, 2005

Isolados do mundo

E a pouco e pouco apercebem-se que precisam um do outro.
Os seus mundos cada vez mais caminham numa mesma direcção.
Com a confiança própria de quem sabe que o caminho a percorrer, mesmo incerto, é o caminho mais correcto.
Não há promessas.
Mas os olhares e as brincadeiras e as cumplicidades falam mais alto.
“Tu já fazes parte da minha vida” dizem um para o outro.
Por entre uma face ruborizada pela inocência de tal afirmação eles compreendem-se e isso tranquiliza-os.
No fundo eles apenas desejam sentir-se especiais.
E por breves momentos nada existe de mais especial do que aquele olhar trocado em segredo.
Aquele roçar de mãos solitárias.
Aquele gosto molhado do beijo desejado mas que teima em não sair.
Nesse momento ficaram os dois.
Isolados do mundo.

Sentir-te

Como é bom sentir-te...voar por entre os teus braços e ver um mundo onde o mar respira carinho e as incertezas possuem a cor do vento. Não busco nesta minha carência uma resposta para todos os anseios mas sinto que quando voo mais alto as estrelas não chegam a tocar os meus calcanhares.
Na penumbra de um cigarro que não quer acabar descubro que nada para além de mim respira o teu ar. Sinto-me poeira que só ganha forma quando recebe o teu olhar tão cheio de tudo. Um olhar que transborda vida. Vida vivida e vida desejada. Tropeço nas palavras que saem da minha boca à velocidade de um bater de asas. As asas que anseiam chegar sempre mais longe e mais alto. Até ao cume. Até ao pico.
Queria poder atingir o teu pico e ver o que tu vês. Porque sei que é desse lugar que a tua alma ganha vida e verdade. A verdade que vou descobrindo em mim à medida que vou abrindo em mim janelas que desconhecia. Janelas que ganharam forma através do teu toque. Como é bom sentir-te...sentindo-me.

Friday, July 08, 2005

Longe

Sento-me no chão
Olho as estrelas e inspiro o céu
Vislumbro uma nuvem e imagino um véu
Cobrindo o teu corpo como a solidão

Na poeira do passado escrevo a minha história
Cheia de dúvidas e indecisões
São tantas as desilusões
Que povoam a minha memória

Longe
Sinto-me tão longe
De tudo o que já vivi
De tudo o que aprendi

Longe
Sinto-me tão longe
A vida já não volta atrás
Sozinho sei que não sou capaz

Mergulho no meu próprio choro
Estou preso sem saber voar
Abro a boca para não gritar
Fecho os olhos e sinto que morro

E agora perdido nesta ilusão
Acordo para não mais dormir
É triste ver-te assim partir
E saber que tinhas toda a razão

Monday, June 13, 2005

Mensagem do Irmão

Quem diria.. Quem diria que uma pessoa como tu se viesse a tornar num irmão. Numa alma que se deu a conhecer parcialmente á minha pessoa. Num conjunto de emoções que ainda hoje me supera pela brevidade de tempo a que está sujeito. Sei bem que os meses que nos uniram se transformam tão facilmente em anos, décadas, séculos, infinidades de tempo que nem nós nem ninguém consegue definir por palavras ou actos.
Sei muito bem que isto que nos vai mantendo unidos é uma coisa eterna. Sei bem que contigo posso eu contar. Nem que seja com um lago de distância. Ou um rio. Ou mesmo um oceano. Não sei Luis, és muito mais do que estas palavras possam tentar explicar. És um amigo que me proporcionou momentos raros. Dignos de uma caixa de surpresas, de uma caixa de excepções. Estou aqui. Nunca te esqueças que estou aqui para tudo o que de bom e de mau vier. Nem que existam dias, meses ou mesmo anos de silêncio na nossa amizade, EU SEI MAS EU SEI COM TODAS AS MINHAS CERTEZAS E FORÇAS, que tu és eterno. Mesmo que a eternidade das coisas a mim me assuste. Obrigado amigo.

GTL

Foram apenas alguns meses, no entanto, pareceu sempre muito mais tempo, tal a quantidade de sensações e emoções sentidas, partilhadas, vividas, descobertas.
Foste o palco onde me descobri. Onde me dei. Onde ri, chorei, sofri, amei e odiei. Por mais forte que eu pudesse ser, arranjaste sempre maneira de me desnudar e mostrar a todos o quão vulnerável eu sou. Só tenho que agradecer-te por isso. Foi por tua causa que decidi arriscar e meter-me por uma porta escura da qual nunca vislumbrei uma saída. Mas por mais escuro que me parecesse o caminho, sempre senti uma segurança estranha há medida que os dias passavam e eu caminhava na estrada do meu (auto)conhecimento. Cada dia tinha um passo novo. Uma história nova. Uma nova sensação. Muitos foram os momentos em que quis desistir. Em que quis deixar tudo para trás e voltar a ser quem era antes de me ter aberto para ti. Assustava-me a facilidade com que te tornavas o espelho dos meus medos e das minhas fragilidades. Assustava-me saber que conseguia sentir tanto e com tanta força. Assustava-me sentir que não te conseguia dar mais do que aquilo que todos os dias me pedias. E como pedias! Pedias sempre mais. Não de uma forma egoísta. Não pedias por ti nem para ti. Pedias sempre para os outros e sobretudo para mim próprio. Porque sabes dentro de ti que só assim podemos ser completos. Se conseguirmos despir as máscaras que diariamente nos cobrem e estivermos dispostos a mostrar a nossa nudez, a nossa sensibilidade. Sei que não consegui destruir todos os demónios que por vezes ainda me atormentam, mas graças a ti ganhei uma nova consciência da minha força, por isso tenho agora comigo novas armas para essa luta eterna entre quem sou e aquilo que desejo ser. No final deste caminho, resta-me a certeza de saber que te levo sempre comigo. A ti, que tanto me deste, só consigo retribuir com o meu obrigado e a minha admiração.

GTL PARA SEMPRE

Sunday, May 22, 2005

Mim

Não queria falar do mesmo. Mesmo sabendo que aquilo que sinto é tão forte que me ocupa o tempo todo. O tempo do meu ser. O tempo que medeia entre aquele que sempre fui e aquele que vai nascendo em mim pouco a pouco.
Mas por mais voltas que dê e por mais caminhos que procure descobrir o tempo do meu ser tem sempre o mesmo destino. TU!
Queria poder falar da cor da Primavera quando começa. Queria poder falar do sabor do mar ao entardecer. Queria poder falar dos desenhos que as estrelas fazem nas noites de lua cheia. Queria poder falar de algo novo de uma forma nova.
Mas a verdade é que vou sempre parar ao mesmo sítio.
Às vezes tenho medo de me repetir e que te fartes das mesmas palavras repetidas até à exaustão. Que te canses daquilo que sinto por ti. Como eu às vezes me canso de sentir estas coisas. Todas elas tão novas e tão frescas, mas que quando tento dar-lhes uma aparência exterior acabam sempre por usar os mesmos figurinos velhos e gastos.
Fazes-me inspirar originalidade mas expirar lugares comuns. NÃO QUERO O COMUM! Porque nada daquilo que sinto por ti é comum. Tudo isso é novo em mim.
Cada olhar, cada beijo teu assume mil vidas próprias dentro de mim. Mim. Mim. Mim! De que me serve falar de mim se sinto que essa palavra existe apenas na sua plenitude porque tu existes. Porque tu és.
A única coisa que desejo é que continues a ser. Assim como sempre foste. Cheia de idiossincracias. Cheia de defeitos. Cheia de tudo aquilo que não encontro em mim.

O prazer

O prazer
O prazer de te observar
E de sentir que cada movimento teu completa os meus
Num desenho contínuo de formas e cores espirituais

O prazer
O prazer de te beijar
E de sentir nesse instante que o mundo gira ao contrário
E que os mares vão desaguar aos rios como a minha boca desagua na tua

O prazer
O prazer de te tocar
E de sentir que nada mais à minha volta existe
Porque a minha pele fica coberta pelo suave toque da tua

O prazer
O prazer de existires
E de sentir que tudo faz sentido em mim apenas por estares lá
E que as perguntas feitas pelo meu corpo encontram resposta no teu suave dançar

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto
Perceberias então que o mar nem sempre é azul
Quando os teus olhos não tocam nos meus

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto
Perceberias que o sal das tuas lágrimas
Se torna mel nos lábios de quem sussurra o teu nome pelos cantos da memória

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto
Perceberias a minha luta constante contra o relógio
Na espera vã de que um momento se torne eterno em ti

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto
Perceberias que qualquer tentativa de pôr em palavras os meus sentimentos
Fracassaria no instante em que a tua pele desenha em mim uma nova história

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto
Perceberias que Amo-te é apenas uma palavra
Que se torna pequena quando envolta na subtileza do teu sorriso de criança

Se conseguisses ver o que vejo e sentir o que sinto
Então eu não precisaria de escrever este poema
Porque os meus olhos já teriam dito tudo